Uma geração com medo de amar

Caroline Busatto | Nova Economia
3 min readMar 16, 2021

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Foto Nathan Dumlao — Unsplash

Há dias que as palavras me transbordam, como se pedissem para que eu desse forma para algo gasoso e transformasse em texto para poder fluir.

Deixo portanto as palavras fluírem pelos meus dedos como uma cachoeira que deságua com toda sua potência e forma um arco-íris.

Quando eu comecei a escrever sobre Nova Economia e falar de amor, gentileza, autoconfiança eu não tinha um mapa. O mapa vai se formando depois que o caminho é percorrido. Depois disso, se nos fixamos no mapa, perdemos as sutilezas do caminho, afinal, mapa não é território.

Pois bem logo que comecei a escrever fui resgatar que parte de mim não conseguia amar. E se a gente não age por amor, agimos por medo.

Todos os dias vemos os produtos disso bem debaixo dos nossos olhos. Porque a violência é produto do medo. Seja ela em uma comunicação violenta, bélica, agressiva ou em gestos. Há que se treinar os olhos e os sentidos para perceber. Perceber que por trás do medo do outro de ir ao encontro tem também a vontade.

Daonde veio o medo? Das criações, da mídia… Tem também o papel que a nossa educação "tradicional" joga em fazer-nos PhD em medos, inseguranças, pensamentos que não somos bons o suficiente. Deu-se até um nome: síndrome da impostora, que é muitas vezes dito no feminino, porque nós mulheres temos uma visão de mundo diferente que nos faz muitas vezes nos questionarmos mais.

Iluminar a sombra

Encarar cada um dos nossos medos é acolher as nossas sombras. Olhar para elas nos olhos. Somente quanto a gente encara a sombra nos olhos podemos trazer luz para acolhe-la e transformá-la.

Encarar nossos medos é sobre questionar os padrões e tudo aquilo que nos coloniza e não educa. Porque a verdadeira educação é transformadora, amorosa e trabalha para que cada individuo possa florescer.

Não sei o que aconteceu com essa geração. Faço parte dessa geração e me questiono e formulo os questionamentos em voz alta para que mais gente possa ouvir. Não é uma geração linear como os nascidos de tanto a tanto. É sobre um coletivo que não sabe chegar até o outro para puxar uma conversa. Que se sente mais seguro com uma tela na frente. Que lança mão de aplicativos de relacionamento para se relacionar. Que critica pelas plataformas sociais mas não se articula para a mudança na vida real. Seja essa mudança na nossa vida pessoal ou na sociedade em que vivemos.

Mas o único antidoto para o medo de amar é criando experiências de amor. Parece poético. É. O amor sempre é poético e a poesia é a linguagem que percorre os caminhos não lineares da racionalidade.

Amar é sobre gerar pertencimento e participação. Promover a escuta. Abrir-se ao outro, estar disponível, mostrar-se vulnerável. Querer ir ao encontro do outro. É escolher andar no mundo com o coração aberto. Disponível.

Não sei como esse meu texto chegou para você. Desconheço também em que circunstâncias você o leu. Mas uma coisa eu sei: o quanto a minha intenção é clara que esse texto toque exatamente a parte de você que precisava curar do medo para ser capaz de amar.

PS: Uma vez eu ouvi de alguém muito sábia que quando a gente ama a vida ela ama a gente de volta mas que a gente só descobre isso quando experimenta.

… que sejamos uma geração que redescobre o poder de amar.

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Caroline Busatto | Nova Economia

Acordo para promover uma economia que favorece a vida por meio de pessoas e negócios. IG: @carolbusa / Site http://www.carolinebusatto.com.br